Beethoven salva
Na maluquice que se transformaram as ruas de São Paulo é comum encontrarmos carros com frase de todos os tipos nos vidros ou nos para-choques. Desde piadas, até profundas demonstrações de fé, vale tudo, a maioria inclusive com pouco sentido, pelo menos no trato com Deus e com as manifestações do divino.
A tranquilidade com que elas garantem atos e ações que o Senhor em nenhum momento garantiu para o dono do carro, chega a assustar. Por outro lado, fazem afirmações temerárias, como a de que Deus é fiel. Será que o ser humano tem tamanho para exigir do criador algum tipo de fidelidade, ou será que é exatamente o oposto?
Mas para que entrar em discussões sem sentido? Cada um tem o direito de colocar no vidro ou no para-choque do seu carro o que quiser. E se ele fica feliz com a colocação, sorte dele, ou dela.
Como as meninas que por serem más não vão pro céu, mas podem ser encontradas em qualquer outro lugar. Ou como as baleias que durante os anos setenta precisavam ser salvas. Ou o mico leão dourado que é grande beneficiário da bondade do mundo, enquanto as crianças de rua só saem das ruas para entrar no tráfico de drogas.
Liberdade é isso. Poder escrever o que quiser e andar pela cidade, como um outdoor ambulante, dando aos outros a chance de encontrar uma luz que os leve mais pra perto, ninguém sabe do que.
Outro dia, parado no trânsito da Vila Madalena, eu dei com uma destas frases, só que, ao contrário da maioria, essa era genial. Inteligente, e com um senso de humor extraordinário, se resumia a duas palavras: Beethoven Salva. Salve a dona deste carro, que não tem vergonha de gostar de Beethoven numa época que legal é gostar do pior.
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