Nó de gravata
Cada vez mais eu uso menos gravata. Depois de décadas submetido ao martírio infernal de uma coleira de pano presa no pescoço, cheguei naquele ponto em que é possível deixar a tortura de lado, para andar mais à vontade, especialmente dentro do escritório. É evidente que não tem jeito de abandonar a ferramenta de uma vez por todas, ainda mais quando se é advogado e seus clientes e os juízes insistem no uso dessa língua enorme e depravada, que sai debaixo do queixo e chega na cintura, passando e cobrindo o umbigo.
Como o uso faz a prática, de tanto usar grava não tenho qualquer problema em dar o nó que a deixa mais ou menos elegante, dependendo do corte da dita cuja ser mais largo ou mais estreito.
Dentro da enorme variedade de gravatas que eu já tive e já usei, houve algumas, nos anos 70, que hoje eu teria vergonha de usar de novo. Eram estupidamente largas e o nó, até quando dado para ser mais fino parecia um repolho maduro de tão grande.
Outras eram e são muito bonitas, de uma largura razoável, e que aceitam qualquer tipo de nó, sem constranger o usuário. As estampas e desenhos também são importantes e eles variam quase que ao infinito, atendendo todo tipo de gosto, do mais discreto ao mais alucinado.
Mas existem gravatas que apesar de bonitas são um martírio, porque pelo comprimento e pelo corte, o nó nunca sai bom ou ela nunca fica no tamanho certo, insistindo em passar do ponto ou ficar curta demais, numa tentativa evidente de nos levar a loucura, o que me permite afirmar que boa parte dos estilistas e fabricantes de gravatas é composta por sádicos com sérios problemas de convivência com outros seres humanos e que por isso fazem o que podem para matar a pouca sanidade do mundo.
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