Avenida Ipiranga
A avenida Ipiranga já foi uma rua mais chique e mais bonita. Também teve muito mais charme. Mas isso não quer dizer que com a decadência do centro ela tenha perdido a dignidade ou o caráter. Não, a avenida Ipiranga, principalmente no trecho entre a praça da República e a igreja da Consolação continua uma avenida com cara de avenida civilizada, com tudo de bom que essa imagem pode passar.
É uma avenida larga, se bem que esteja meio confusa, exatamente neste trecho, aonde suas mãos vão e vem, com um certo ar de bagunça. Mas tudo bem, perto de outras avenidas que já tiveram tanto ou mais caráter, até que ela se mantém íntegra e razoavelmente correta, dando um ar de decadência discreta, como se ainda fosse fina, mas, como qualquer herdeiro depois da terceira geração, estivesse meio desprovida de meios, porque dilapidou a fortuna.
Eu conheço estórias fantásticas sobre ela e sobre os proprietários de seus terrenos. Conheço gente que perdeu boa parte destes terrenos jogando porrinha, ou na rinha de galos, onde o marketeiro da prefeita derrotada foi pego com a boca na botija, porque hoje em dia é crime apostar nos galos.
Tem também os que cresceram em casarões com grandes quintais, onde os avós, que poderiam ser meus bisavós, moravam na primeira metade do século 20.
E tem os poetas que durante anos moraram lá e faziam suas vidas nas redondezas, entre os muitos lugares que São Paulo oferecia nos anos 50, em volta dela.
Eu gosto da avenida Ipiranga. Mas não pelo passado que eu não vivi, e sim pela nostalgia das noites do meu tempo de mais moço.
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