No banco da praça

A paz pode aparecer de várias formas. Se manifestar em gestos, momentos, situações diferentes, mas com o traço comum de serem instantes únicos e especiais, onde a vida desce do cavalo e se encosta num barranco, fora do filme, esquecida das coisas e que seu destino é sempre seguir em frente.

Pode ser um olhar, uma palavra, um gesto. Pode ser a ausência disso tudo. Pode ser um estado especial em que sem perceber, também descemos da vida e paramos o filme, fora da realidade do mundo, dançando nas ondas de um mar amigo que embala o corpo e entorpece a alma.

Foi isso que eu mais senti do que pensei vendo o velho senhor sentado no banco da praça Éster Mesquita, no fim da avenida Higienópolis. Ele dormia, esquentando no sol, como se os arcanjos do Senhor estivessem ao seu lado, zelando por ele.

Era um sono calmo, um descansar completamente, como se corpo e espírito tivessem combinado o momento, para enganar o homem e conhecerem outros mundos, perdidos além do nosso horizonte.

O senhor preto dormia profundamente, alheio ao trânsito, à pressa, às outras pessoas que passavam em volta. Seu mundo se resumia ao universo do seu sono, que eu imagino sem sonhos, e por isso mesmo infinito como as curvas do universo unindo as paralelas.

Ele navegava em águas calmas, tocado por vento amigo, costeando uma terra rica e diversa, onde cada praia tinha seu mistério, um rio desaguando no mar, uma pedra, um recife, a areia fina criando formas no limite da maré. O velho senhor dormindo no banco da praça era a imagem do paraíso, e a certeza que ele deve ser bom.

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