A figueira do escritório
No fundo do quintal do meu ex-escritório tem uma figueira impressionante. Não é a maior figueira que eu conheço, nem está perto disto, mas a velocidade com que ela cresce é alucinante e se ela tivesse mais espaço e não fosse sistematicamente podada, provavelmente teria um tamanho de encher os olhos, como algumas primas espalhadas pelas ruas da cidade.
A figueira do escritório é de um tipo raro, ou pelo menos, eu não conheço muitas iguais a ela, aqui ou em qualquer outro lugar. Quem sabe por causa disso a história dela chegou pra mim com muita poesia e alguns toques únicos que depois foram desmentidos pelo maior interessado, que não achou ruim a manutenção da lenda, mas me disse que não era assim.
A história dessa figueira começava na Índia, de onde ela teria sido trazida por meu tio Paulo Mendonça, que a plantou no fundo do quintal da casa onde morava e que atualmente é o meu escritório.
Pelas folhas diferentes, maiores do que a das figueiras comuns, pelos figos também maiores, a história fazia sentido e por isso, durante anos, eu a contei para quem me perguntava sobre a árvore solitária que tapa o sol do fundo do quintal e que a cada ano precisa ser podada pelo menos duas vezes para não se espalhar e cobrir o quintal do vizinho, ou não empurrar o telhado, estragando a calha e as telhas.
É uma árvore vibrante, que cresce alucinadamente o ano inteiro, brotando com a fúria das monções ou das tempestades de verão paulistanas. Diz meu tio que quando comprou a casa ela já estava plantada no quintal. Era uma árvore ajuizada que um dia resolveu crescer mais que as outras, mas que isso era um detalhe que ninguém precisava saber. Na versão indiana ele ficava muito melhor.
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