Da Florêncio de Abreu e de outras saudades
Eu comecei a descobrir o centro velho de São Paulo em 1972, quando fui cursar a Faculdade Direito do Largo de São Francisco. A faculdade por si só foi, mais que um descobrimento, uma revelação, que em cinco anos se mostrou apenas como quis, me deixando com a certeza que eu conheço muito pouco do prédio que substituiu o antigo mosteiro original.
Quanto de carma e de esperança se esconde atrás dos vitrais e dos lambris, das colunas pesadas e da enorme escadaria principal! Há um mundo há ser descoberto. Um universo que transcende a matéria para se perder em ondas cósmicas perpetuando os ideais maiores que desde sempre são os verdadeiros alicerces da Faculdade.
Mas a Faculdade um microcosmos dentro de um imenso universo tão misterioso quanto ela, composto por 450 anos de história e quilômetros de ruas e galerias subterrâneas serpenteando por todos os lados das encostas e das entranhas das antigas colinas onde a cidade nasceu.
Cada rua tem uma característica ou uma marca que me marca desde aquela época, quando o centro velho ainda era o coração financeiro do país e as ruas da Boa Vista e 15 de Novembro imperavam absolutas no mundo dos negócios.
E próximas a elas, ruas menores e menos importantes continuavam uma história antiga, com as marcas do tempo nas paredes, nos muros e nos interiores dos prédios que um dia foram, e na época já não eram, mas que preservavam antiga dignidade em detalhes como uma porta com cristais importados servindo de entrada para corredores menos nobres.
Florêncio de Abreu, Ladeira Porto Geral, Santo Antonio e tantas outras que continuam lá, decadentes, mas fazendo força para voltar.
___
Siga nosso podcast para receber minhas crônicas diariamente. Disponível nas principais plataformas: Spotify, Google Podcast e outras.
Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.