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A missão dos buracos de rua

A principal missão de um verdadeiro buraco de rua é causar o máximo de dano possível. Se for um buraco consciente, sintonizado com suas origens e os exemplos dados por seus maiores, ele não hesitará em causar o máximo de dano possível, seja em quem for, desde que quebre ou machuque bastante.

Um bom buraco tem que tentar se ultrapassar. Ser o melhor, o que nem sempre quer dizer ser o maior. Se o buraco gigante da avenida Interlagos até hoje é referência é porque além de ser grande o buraco era competente e destruía tudo que caísse em seu interior escuro e faminto, fosse um fusca velho ou uma Mercedes blindada novinha.

Por isso, vários buracos que não querem ser grandes, mas simplesmente eficientes, desenvolveram técnicas próprias para causar dano, sem precisar usar o tamanho para quebrar ou
machucar.

Esses são os piores. Tão eficientes quanto os ninjas, ou os terroristas da Al-Qaeda, os buracos inteligentes que não querem ser grandes criaram táticas especiais e altamente destrutivas.

Como os lugares em que se instalam variam, eles tiveram que se adaptar ao terreno. Alguns copiaram as soluções dos buracos de bombas no Vietnam, outros preferiram as bombas inteligentes usadas no Iraque e outros criaram técnicas próprias, inéditas e com viés latino-americano, que os faz imprevisíveis porque não temos nenhum manual da CIA explicando como agem.

Entre todos, os mais perigosos são os que agem com passo de urubu malandro. Os que fazem que vão, mas ficam. E se camuflam, para parecer que não tem buraco, deixando as bordas lisas, como se fosse rua, para num baque seco, arrebentar a suspensão do carro enganado.

 

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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.