O Solar da Marquesa
O centro velho de São Paulo tem surpresas fantásticas, maravilhosas, apavorantes. É uma das regiões menos conhecidas dos moradores da cidade e, no entanto, foi lá que durante quase 400 anos a vila colonial viveu encarapitada, espremida em suas ruas estreitas, algumas com nomes que ficaram até hoje, como a rua da Quitanda, a rua Direita, que no começo era Direita de Santo Antonio, e a mais que poética rua da Boa Vista, que atualmente tem como horizonte os prédios altos dos dois lados da rua.
Alguns prédios valem a visita, outros, entre eles a maioria dos que rodeiam a praça da Sé, não tem qualquer valor histórico ou arquitetônico, exceto mostrar uma região degradada e como a cidade evoluiu de vila a metrópole, em menos de 100 anos.
Entre os monumentos mais ou menos preservados está o Solar da Marquesa de Santos, construção do século 19, quando Dona Domitila de Castro, ex-amante do imperador e grande dama paulista, então já casada e mãe, habitava praticamente ao lado do colégio dos Jesuítas, no coração do coração da cidade, que era onde moravam as pessoas de bem paulistanas.
O Solar vale a visita, mesmo estando longe das dimensões palacianas de algumas casas do Rio de Janeiro, de Recife e de Salvador.
Aliás, é por isso mesmo que ele vale a visita. Em suas linhas simples, em seu tamanho acanhado para casa da mulher mais importante do pedaço, nas paredes grossas e rústicas ainda preservadas e a mostra, surge uma cidade pobre, longe da grandeza da corte, onde a vida era dura e a fortuna difícil, carregada pelas tropas de burro que seus moradores tangiam do sul para o norte, abastecendo o interior do país.
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