Com gelo e com limão
Quando eu morei na Alemanha, na época em que ainda havia o muro, uma das minhas primeiras surpresas foi quando pedi um uísque, logo depois de chegar em Berlim, num bar na KuDamm.
Era uma tarde de começo de primavera, de forma que sentar na calçada era impossível. Ainda estava frio demais. Então entrei, sentei numa mesa perto de uma janela, chamei o Herr Ober, que é o garçom, e pedi um uísque. Simplesmente isso: pedi um uísque, por favor, quer dizer, Bitte, e fiquei olhando pra fora, sem acreditar direito que eu estava em Berlim e que moraria todo o próximo ano na Alemanha.
Foi aí que tive a surpresa. O garçom veio, com uma bandeja com uma garrafa de Bourbon, uma de coca cola e um balde de gelo, parou na minha frente, colocou meia dose de uísque no copo, depois uma pedra de gelo, uma rodela de limão e encheu o que faltava com coca cola. Eu fiquei tão impressionado que não consegui ao menos perguntar o que ele estava fazendo.
Só depois dele ter me servido e eu experimentado o gosto horrível do que ele tinha me dado para beber, consegui chamá-lo de novo e numa mistura infecta de alemão com inglês, perguntar o que era aquilo.
Foi aí que eu aprendi que uísque que nem o que se bebe no Brasil, na Alemanha, é um “scotch, double, on the rocks and with much ice”. E daí pra frente não tive mais problemas.
Pois não é que agora, no Brasil, está cada vez mais comum oferecerem alguma coisa quase tão ruim quanto o uísque alemão?
É você pedir um a coca cola light e lá vem o copo com uma rodela de limão. Quem é que disse que eu quero uma rodela de limão com a coca cola? Eu não quero. Mas muito pior é quando você pede um guaraná diet. Não tem jeito, o bruto vem sempre com uma rodela de laranja, que é pior ainda.
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