Uma semana para não ser esquecida
Alguns momentos devem ser deixados para depois. Não o momento, porque ele é inadiável, mas sua compreensão e sua realidade, porque invariavelmente são momentos terríveis. O Brasil teve uma semana para pensar depois, durante muito tempo. Não bastasse a suspensão da vacinação da segunda dose da Coronavac em dezenas de cidades, as tolices ditas pelo Presidente e o quadro dramático da ameaça de uma terceira onda do coronavírus, tivemos que conviver com outras tragédias que não podem ser esquecidas, sob risco de nos tornarmos piores.
Independentemente da ordem cronológica, o assassinato de crianças e professoras numa creche em Santa Catarina, os 28 mortos da comunidade do Jacarezinho e a morte do ator Paulo Gustavo revelam o lado feio e escuro de uma sociedade esgarçada por todos os equívocos, bandalheiras e falta de noção de humanidade que vem sendo cometidos faz muito tempo.
Um jovem entrar numa creche, armado com uma faca, e matar crianças pequenas e funcionárias é completamente fora da curva no Brasil. É cena de terror em escola norte-americana, ou era. Não é mais, aqui se mata mais do que lá, só não mostram com a clareza necessária para não se ter dúvida sobre a guerra diária que acontece no país.
As vinte e oito mortes do Jacarezinho levam a uma única pergunta: o que adianta a polícia fazer o que faz se o Estado não faz nada pelas comunidades pobres da cidade? Se não tem creche, posto de saúde, assistência social e escola, qual o sentido da polícia subir o morro?
Paulo Gustavo era um brasileiro bom, como a imensa maioria dos mais de 400 mil mortos pela pandemia. Sua morte catalisa e dá dimensão a todas as outras mortes por covid19. Com certeza teríamos mortes, mas nada parecido com o que acontece porque o governo não faz sua parte.
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