O primeiro frio
O primeiro frio chegou. E chegou forte para a época do ano. Quem está dentro de casa, com a TV ligada, se encanta com a geada nos campos do sul do país, tudo branco e europeu, como se a Serra de Santa Catarina fosse os Alpes e a Serra Gaúcha, os Pirineus.
Quem está dentro de casa, com roupas de lã, cobertores quentinhos, camas arrumadas, adora uma boa noite de frio. Fazer um fondue e beber um vinho é uma forma gostosa de se vingar da pandemia.
Se tiver lareira, melhor ainda. A festa fica completa, ou o encontro a dois, tanto faz, o importante é o frio servir de desculpa para alguma coisa gostosa, aconchegante e quente, como um abraço apertado.
Estamos no meio de maio, mas o frio entrou com cara de inverno. Com a força que tinha na época do “bom sono pra você e um alegre despertar”. A maioria não vai saber o que é isso… era o jingle dos cobertores Parayba.
Pode mais quem chora menos. Protegido, o frio é uma delícia, até numa noite de julho, com o céu limpo e a lua com seu halo, deitado no terreiro de café, ao lado dos montes e dos carreiros com os grãos secando.
Debaixo de um edredom, qualquer frio é moleza. Duro é aguentar a noite gelada dentro de uma tenda pequena instalada debaixo do Minhocão.
No chão, caixas de papelão abertas bloqueiam a friagem que sobe do cimento das calçadas. Sobre o corpo, um cobertor velho completa a proteção das roupas surradas. Na cabeça, um gorro de lã e, se tiver como, uma garrafa de pinga para rebater o vento que entra cruel, rasgando a pele.
O frio nas ruas não tem poesia, não tem beleza. É duro, maltrata, dependendo da noite, chega a matar.
Milhares de pessoas vivem nas ruas de São Paulo e têm que aguentar o frio brutal que está só começando. Se tiver como, ajude.
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