Rua Jandaia
Tem pouca gente na cidade de São Paulo que sabe que no centro velho tem uma rua chamada Rua Jandaia, quem sabe numa homenagem aos periquitos desta espécie que deviam ser comuns nela, muito tempo atrás.
O curioso é que milhares de pessoas passam de carro em frente da rua Jandaia todos os dias, e, da 23 de maio, ao verem os Arcos dos Italianos, não sabem que a rua em cima deles é a rua Jandaia.
A rua Jandaia não é uma rua bonita, mas é provavelmente a rua mais portuguesa da cidade. Pequena, estreita, de paralelepípedo, íngreme em boa parte de seu traçado, ela passaria por rua de qualquer bairro antigo de Lisboa.
Com construções de um lado só, à direita de quem sobe por ela, porque a esquerda está o espaço vazio, em cima dos arcos, a rua Jandaia tem caráter e é uma rua muito especial.
Principalmente para mim, que cresci brincando nela, porque minha avó Wilma morava lá, numa casa projetada provavelmente por Ramos de Azevedo, construída ao lado da casa de tia Quita, irmã dela, no fundo do imenso terreno do palacete de meu bisavô Pádua Salles.
Eu e meus primos jogávamos futebol na casa de minha avó e, quando por qualquer razão a coisa ficava feia, corríamos para casa de tia Quita, uma espécie de porto seguro, até a coisa se inverter e corrermos de volta para a casa de minha avó.
A casa de tia Quita tinha um laguinho que devia ser pouco maior do que uma mesa para seis pessoas, mas que naquele tempo parecia imenso. Na casa de minha avó, o espantoso eram os pombos que meu tio Landão criava, e dos quais nenhum menino podia chegar perto, sem ele do lado.
Foi uma época boa, que hoje fica melhor ainda, porque vive na prateleira das lembranças gostosas, que permanentemente se renovam em festas de família.
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