O tempo passa
O tempo passa de várias maneiras. Passa simplesmente envelhecendo e enferrujando a liga que um dia foi forte. Passa acabando o que uma vez existiu e foi bom. Passa sem deixar marcas. Passa ferindo o corpo e a alma, como o corte de uma navalha passando na pele do pescoço, ou a cicatriz de uma faca cega torturando os olhos.
O tempo passa porque nós passamos. Mas há uma inversão terrível no jeito de ver as coisas. Inversão fruto de nossa grandeza ridícula, de nossa pretensão infinita de alcançar a eternidade divina.
Graças a Deus, o tempo não passa, somos nós que passamos por ele, vivendo como a vida é servida, momentos leves ou pesados, que trançam a malha da existência, nos cruzando, nos ligando e nos separando de outras pessoas, que, como nós, também se ligam, também se separam, choram e riem, conforme a vida vem, conforme a vida bate, mais leve ou mais pesada.
É assim que é e é assim que é bom. A vida é uma aventura fantástica, através de uma estrada que se abre larga em direção ao nosso destino.
Ao longo dela as estações se sucedem, com flores, e calor, e frio, e sol, e chuva, e folhas secas caídas no chão, numa sequência maravilhosa que, se às vezes machuca, com jeito, dá a contrapartida do riso franco, cintilando nos olhos olhando com amor, na mão que se abre na hora mais difícil, no gesto de carinho no momento de descanso, na ternura e na paixão que se confundem na construção do êxtase e na trama da felicidade.
O tempo passa. Mas, quando passa próximo e amigo deixando a gente dividir seus momentos, passa sem passar, com as coisas boas crescendo, justificando a luta contra as tempestades, o semear e o colher, o andar junto e o amor que nasce e se fortalece ao longo da estrada.
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