Um caso de amor

São Paulo é um caso de amor antigo. Sólido e resistente como os verdadeiros amores devem ser. Velho da minha idade, ininterrupto, com altos e baixos, como acontece com os grandes amores. Mas, acima de tudo verdadeiro e profundo como os sentimentos de quem ama devem ser.

Contraditório, o amor não é cego. Por isso, vê o bom e o ruim e aceita a cidade como ela é, porque se quisesse que fosse diferente não seria amor, seria outro sentimento diferente, posse, ou sei lá o que.

Quem ama, ama o ser amado como ele é. Com seus defeitos e suas qualidades, com o lado claro e o lado escuro se completando, porque ninguém é um lado só e, às vezes, dois, são poucos para conter toda a complexidade envolvida, ainda mais em uma cidade que se estende em direção de todos os horizontes e os ultrapassa, dando a sensação de infinita, até para quem vem de avião, e a vê de cima, se estendendo como um polvo gigantesco colina atrás de colina.

Atrás de cada luz tem uma história, uma comédia, uma tragédia. E elas se desenrolam incógnitas, sem ninguém saber da maioria delas, como começou, o meio e o fim.

Passam, sem deixar mais marcas do que mais uma luz se apagando, entre os milhões de luzes que se acendem todas as noites. Na rotina da cidade, passam como se nunca tivessem acontecido, mas ferem, alegram ou arruínam seus personagens.

Gente real, que vive suas vidas como eu vivo a minha. Que tem suas alegrias e tristezas como eu tenho as minhas. Que chega lá como qualquer um de nós, que, somados, somos a alma da cidade alucinada, impiedosa e insensível, mas que é a São Paulo que eu amo.

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