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Não contam mais piadas

Um amigo observou que as pessoas não contam mais piadas. Uma das marcas dos brasileiros sempre foi a capacidade de achar graça, mesmo em meio à desgraça. Mas nós estamos perdendo este traço, estamos perdendo a capacidade de contar piadas, de criar piadas, de rir, sem outro compromisso, senão rir, achar graça, se soltar na vida e esquecer as mazelas que nos cercam e que não são poucas.

Sem entrar no mérito das razões que levam a isso, sou obrigado a concordar que meu amigo está certo. Comecei a prestar atenção e é verdade, nós não contamos mais piadas.

Prosseguindo na sua análise, meu amigo me perguntou se eu concordava com ele, que o problema era a polarização sem sentido e que leva amigos da vida inteira a brigarem de morte, muitas vezes levados ao embate por bobagens publicadas na internet, sem qualquer comprovação.

Sem dúvida, isso é um motivo, mas não sei se seria o único. A crise é velha e não vai embora, rir depois de muito tempo comendo o pão que o diabo amassou é complicado.

Sem nenhum preconceito em relação ao diabo, afinal, ele caiu do céu e foi condenado a cuidar dos pecadores, a vida não está fácil. Tem até quem afirme que o diabo assinou um contrato para nos deixar pagando a conta em vida, mas eu não garanto a afirmação.

Também tem quem diga que o inferno está cheio, então, hipoteticamente, a solução foi cobrar a fatura de alguns escolhidos em vida. E aí é muito complicado fazer piada ou vagamente sorrir.

Em mar que tem tubarão peixe menor fica na toca. Só peixe bobo ou que não tem para onde fugir fica dando mole na frente do monstro. Pode ser que seja por aí e meu amigo esteja absolutamente certo. Não fazemos mais piadas porque não temos motivos para rir.

 

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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.