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O primeiro começo

Cada vez que eu vejo a serra do Mar, o paredão que ela é, a forma íngreme e dramática que com que se debruça sobre o litoral, espremido entre o mar e suas encostas a pique, fico imaginando como os primeiros portugueses se sentiram, ao chegarem e vê-la e encararem o desafio de ultrapassa-la.

Os primeiros desbravadores não sabiam do caminho do Peabirú. A estrada larga e gramada que saia de São Vicente, subia a serra de Paranapiacaba e se embrenhava pelo sertão, acompanhando grosso modo o traçado do rio Tietê, para cair Paraná à dentro, até chegar aonde hoje fica Assunção, capital do Paraguai.

A montanha deve ter-lhes aparecido terrível, quem sabe como mais uma provação de Deus, antes de abrir-lhes o Eldorado, a lagoa Dourada, Sabarabuçu e as Minas de Prata.

Encolhidos na ilha de São Vicente, com a Bertioga lhes protegendo dos ataques dos tupinambás de Cunhambebe, o outro lado da serra era o sonho sem limite atravessando as matas e os campos, até onde a imaginação alcançava.

O caminho do Peabirú surgiu como a certeza de ser possível cruzar a montanha e varar o sertão, nos vários palmos de largura da estrada atapetada com uma grama especial, tão boa quanto as melhores da Europa.

Subir a serra pela primeira vez deve ter sido emocionante e o coração mais duro deve ter palpitado de susto e cansaço, diante do desconhecido e de suas promessas. Mas não tão forte como quando no alto da serra, os olhos viram de um lado o mar infinito e de outro os campos verdes, tão extensos como o mar.

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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.