Você no cotidiano
De manhã é difícil acordar, ainda mais no inverno, quando fora da cama está frio. Para você o bom seria ficar mais tempo, bastante mais tempo, deitada debaixo das cobertas quentes, percebendo o dia através da janela ficando cada vez mais clara por trás da persiana abaixada.
Mas você sabe que é preciso levantar e enfrentar o dia, como dona de casa e como profissional, mesmo com o frio te convidando e quase convencendo que o bom é ficar na cama.
E você cria coragem e sai da cama disposta a enfrentar o dia que começa, mesmo já não sendo tão cedo.
Cada gesto ao longo deste longo ritual me comove. Queria poder te deixar na cama, comprar um passe mágico que te permitisse adiar indefinidamente o inadiável de tua rotina. Mas não dá, não tem como, e o jeito é curtir você se levantando, tentando enganar o dia e adiando o momento improrrogável, que se aproxima com a velocidade dos instantes definitivos.
Daí pra frente, adoro ver cada um de teus gestos ao longo do dia, mas acima de todos, adoro ver teus gestos mais simples, os que se encaixam no ritmo do cotidiano porque são consequência dele, além de serem indispensáveis para o dia seguir em frente, seguro e tranquilo, como teu ritmo.
Há uma poesia enorme na forma como você toma seu café da manhã. Em cada gesto envolvido na magia de passar manteiga no pão, ou de encher a xícara com café e leite quente e esperar um pouco, soprando de leve, antes de dar o primeiro gole.
Mas há mais poesia ainda na forma como você lava a louça usada, depois do café da manhã. Como você a coloca debaixo da água escorrendo e lentamente passa a esponja. E me comove como você, com gestos delicados, segura e balança xícaras e pratos, para a água escorrer, antes de coloca-las no escorredor.
É bom te ver no dia a dia e te amar em tua rotina.
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