Quem foi Borba Gato
A pergunta que não quer calar é se os atacantes da estátua do Borba Gato ao menos sabem quem foi Borba Gato. Curiosamente, São Paulo teve dois Borba Gato. Qual o da estátua? Será mesmo Manuel de Borba Gato, o genro de Fernão Dias Pais? Ou é o outro, que teve papel de destaque na história da Vila?
O poeta Paulo Bomfim, com quem caminhei por Santo Amaro mais de uma vez e que conhecia São Paulo como ninguém, contava as histórias dos dois personagens. Um na vila, outro no sertão.
Assim, se o ataque foi contra o Borba Gato que ficou durante anos escondido no sertão de Sabarabuçu, depois de matar o enviado do rei português para assumir as Minas de Ouro – que com razão ele achava que não valiam nada -, então nossos “talebans” cometeram um erro crasso.
Manuel de Borba Gato nunca participou de uma bandeira de descida de índios. Ele nasceu depois desse ciclo, quando já não compensava entrar sertão a dentro para guerrear e aprisionar os índios de tribos rivais dos tupis, que, com os mamelucos, eram a maioria dos integrantes das bandeiras.
Manuel de Borba Gato era casado com uma filha de Fernão Dias Pais, o “Caçador de Esmeraldas”, que abriu a riqueza do ouro de Minas Gerais, enquanto buscava as esmeraldas prometidas ao rei.
Se Fernão Dias, antes de partir em busca das esmeraldas, se notabilizou pela bandeira que comandou ao Guairá, de onde retornou com centenas de índios que foram instalados em sua fazenda de Pinheiros, Borba Gato não tem nada com isso. No máximo, a época, era bebê de colo.
Se a ideia é atacar os símbolos das bandeiras do primeiro ciclo, então é preciso colocar abaixo o Mosteiro de São Bento. É lá que Fernão Dias está enterrado porque foi dos grandes benfeitores dos beneditinos. Mas o ataque não mudará o que foi, nem criará novos heróis.
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