Repositório
Guardo dentro de mim infinitas saudades. Saudades tão antigas como a guerra de Tróia ou tão várias como as viagens dos cometas, que alcançam o fim do universo para trazer para os astros perdidos na Vai Láctea notícias de parentes distantes.
Trago em mim saudades do que vivi e do que não vivi, mas que está em mim, correndo em meu sangue, transmitida pelos meus maiores que as viveram e as transmitiram para que não fossem esquecidas.
Sei de guerras contra mouros, e desafios contra o mar. Sei de campanhas loucas, Alquecer Quibir e outras aventuras onde os corpos se perderam para que se salvassem as almas.
Sei de noites escuras nas trilhas dos Peabirus varando os chãos da América na busca dos incas.
Sei do rugido das matas apavorando os homens que ousavam desvendar seus segredos sob tempestades terríveis. Sei dos relâmpagos e dos raios e dos incêndios que devastavam áreas imensas.
Sei da descoberta do ouro, das catas e das minas às margens de rios desconhecidos que abriam suas entranhas para que gerassem fortunas incalculáveis.
Sei da fundação das cidades, nascidas corrutelas perdidas no sertão. E da derrubada das matas, substituídas pela onda verde dos cafezais infinitos criando riquezas infinitas.
Sei da vida que escorreu em sangue tingindo a terra com sua cor peculiar. Sei dos ossos que ficaram servindo de bússola.
Sei de coisas que sequer imagino, mas que vivem dentro de mim, trazidas pela herança genética que faz cada ser humano um ser único, mas com a missão de se misturar a outros seres humanos únicos, para juntos tentarem fazer o mundo um pouco melhor.
___
Siga nosso podcast para receber minhas crônicas diariamente. Disponível nas principais plataformas: Spotify, Google Podcast e outras.
Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.