O amor e o tempo

Dizem que as pessoas felizes não têm história e que por isso não existe uma história de amor com final feliz. Será?

Ou será que a felicidade se constrói, pedra a pedra, dia a dia, ao longo da vida? Uma coisa é certa: a felicidade não cai do céu. O que cai do céu é a possibilidade de se se ser feliz. Esse é um presente divino que pode ser ganho ou perdido, na medida que o destino o coloca na nossa frente, e na medida que nós o vemos, ou percebemos que está logo ali, ao alcance de nossas mãos.

Quantas luas passam pelo céu ao longo dos anos? Quanta chuva cai e quanto vento sopra? Nem todos são bons, nem todos são ruins, nem todos deixam marcas de momentos que se eternizam, nem todos fazem mais do que ser chuva ou ser vento ou ser lua, para logo depois serem esquecidos, engolidos pela rotina.

A felicidade é um estado de espírito que não tem explicação. Ou se é feliz, ou não se é. Mas ninguém é feliz o dia inteiro, nem ninguém é feliz a vida inteira, porque a felicidade não é um jeito de ser, uma moda. A felicidade é um modo diferente de sentir as mesmas coisas, um outro jeito de viver a mesma vida, todos os dias.

É por isso que ela pode ser construída, que ela deve ser construída, pedra a pedra, lua a lua, primavera depois de primavera, arando, semeando e colhendo seus frutos, perseverando dia após dia, ano a pós ano, sempre, para faze-la existir, para faze-la crescer e desabrochar como a orquídea que se abre no lugar mais improvável, ou a violeta que humildemente se eterniza no cotidiano de nossas vidas.

É por isso que nós a construímos, e é por isso que nós a vivemos, sem perceber a maior parte do tempo, como uma aragem que passa e arrepia, mas que não chama a atenção, ao longo da vida.

É por isso que nós a fazemos, dia a dia, aprendendo a viver juntos, já sem medo de convier com ela, como o lavrador que sabe que só da terra bem cuidada nascem os bons frutos.

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