A amizade

Andando na praia, escutei de uma menina de seus 18 anos, conversando com uma amiga, que “a amizade verdadeira é uma forma de amor, diferente”. O papo entre elas continuou, só que, como meu ritmo era bem mais rápido, deixei as duas para trás, sem saber como a ideia se desenvolveu entre elas e se a amizade verdadeira era, afinal, outra forma de amor ou não.

Dentro de mim, de qualquer jeito, a discussão não chegou a se materializar. A certeza foi tão grande que a ideia rapidamente tomou conta da minha caminhada, quente como o gesto que se entrega na mão amiga estendida na hora da dor.

Não há no infinito capítulo dos gestos, gesto mais querido e mais terno do que aquele que dá a alma de quem o faz, sem cobrar nada, sem acerto futuro, sem outro interesse, além da entrega em si, como prova de amor, confirmando a amizade profunda que é a mais sólida forma de amor.

Entre todos os sentimentos o mais leal e o mais próximo é o da amizade. A amizade consegue ir muito além do amor em sua capacidade infinita de aceitar o próximo como o próximo é, sem julgar seus defeitos, sem cobrar uma constância excessiva ou exigir a entrega total que o amor – sentimento egoísta – costuma cobrar.

A amizade antecipadamente perdoa. Mas mais do que perdoar, a amizade aproxima, porque é nas horas difíceis que ela se faz presente, é nas horas mais escuras que ela, com sua presença, traz a luz da esperança e a certeza de que depois da tempestade, mais cedo ou mais tarde, nosso navio encontrará um porto seguro.

O amor é cruel e a amizade é doce. Ninguém mata um amigo, ninguém se vinga de um amigo, ninguém menospreza, nem trai um amigo.

O amigo preserva o amigo. É um sentimento que vem de dentro; que nasce de uma série de sensações que incorporam, mas transcendem o amor. Por isso a amizade é, sim, uma forma de amor diferente: ela é mais constante e é eternamente fiel.00

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