Pelas brumas
Tua saudade tem qualquer coisa de lunar. Com se uma luz fria e esbranquiçada penetrasse as trevas da minha solidão, marcando os limites do meu sonho, sinto na alma o frio de uma claridade que me aponta teu rumo, mas que me engana, porque teu rumo se perde para além dos rumos, entre as matas onde a luz da lua não penetra.
Sinto no peito a certeza da tua presença, mas ela se desmancha em sombra quando tento te abraçar. Se desmancha em claridade inconsistente quando tento ver você, imaginando ter-te ao meu lado.
De verdade, não tenho nada, exceto tua saudade.
A saudade profunda e doída que vem do mais escondido de meu pensamento e que se espalha, tomando conta de meu corpo e de minha vontade.
Saudade que se impõe, completa como a lua cheia numa noite de verão, brilhando distante num céu quase sem estrelas, escondidas pelo brilho frio que nos hipnotiza e nos leva para a beira dos abismos que margeiam a vida.
Sei que sinto, mas não sei o que sinto. Frio e calor se misturam ao mesmo tempo. Vontade de estar com você e a certeza de que não estarei, me imobilizam.
Fica só a certeza de tua presença, fria como a lua, porque não é você quem está, mas sou eu que imagino que você está, e por isso quando estendo a mão ela vai além de tua visão, e a desmancha e eu te perco e perco o gesto inútil na solidão da noite.
Tua saudade tem qualquer coisa de lunar. De mistério ou de antiga lenda, quando a vida se escondia nos recessos da mata e escorria em cachoeira, como a poesia que eu guardo no meu peito, mas que sai, já sem sentido, porque o sentido da minha poesia e dá-la para você, que deveria estar ao meu lado, mas que só chega nos sonhos e vira bruma quando tento tocá-la.
Tua saudade se reflete na lua cheia que por isso ilumina mais minhas noites mal dormidas.
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