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O incêndio da Cinemateca

A cinemateca pegou fogo. Nada que não estivesse no radar desde que o atual Governo Federal assumiu. O descaso com as artes e a cultura atingiu nível de terror, como se o bacana no mundo fosse brincar de mocinho e bandido ou de guerra, até com um desfile militar bastante constrangedor, Esplanada dos Ministérios a fora.

Pode mais quem chora menos. Até agora, quem está chorando é a sociedade brasileira, com seus mais de 550 mil mortos pela covid19; seus 14 milhões de desempregados; seus mais de 20 milhões em situação de vulnerabilidade pela fome; e 100 milhões ganhando até um salário-mínimo.

Cultura não é sequer confundida com lavoura. Não estão nem aí se o produtor agropecuário brasileiro vai ou não vai vender para a China porque um boçal alçado à ministro – nada de novo no país – xinga o grande comprador de nossa produção.

A Cinemateca pegar fogo faz parte de uma trajetória dramática, que não começou neste governo, mas que com ele ficou mais perigosa.

A reinauguração do Museu da Língua Portuguesa teve como contraponto o incêndio da Cinemateca. Uma mão lava a outra. Você arruma aí que eu desarrumo aqui.

Não custa lembrar que o Museu da Língua Portuguesa pegou fogo. Que o Museu Nacional pegou fogo. Que o auditório do Memorial da América Latina pegou fogo. E que o Museu do Ipiranga foi fechado porque tinha o risco concreto de vir abaixo, derrubado pelas chamas ou pela falta de manutenção.

Nossos líderes querem é grana no bolso. O resto é bobagem. Cultura, educação, saúde, segurança pública, assistência social, emprego, aposentadoria, é tudo balela. É não pagar e pronto. O que vale é quanto cada um leva. Aí, o pagamento é imediato.

 

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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.