A vitória da ilusão
Ser são-paulino, nos dias de hoje, é aceitar a vitória da ilusão sobre a esperança. Esse time não tem jeito, tanto faz o que façam, não tem jeito.
A defesa falha, o ataque falha e o meio de campo joga que nem caranguejo, andando para o lado ou para trás. Desse jeito, nem se o Arcanjo Gabriel descesse do céu com sua espada flamejante e tirasse os adversários da frente o time conseguiria marcar gol.
O time joga mal. Não adianta, o time joga mal. Pior, joga sem garra. A sensação é que depois do jogo tem um piquenique e que todos estão esperando acabar para se sentarem na grama e comer sanduiche de atum. Bom é comer sanduiche de atum, jogar futebol é só uma maneira de conseguir os recursos para comprar o atum, o pão e a maionese. Então ganhar ou perder é a mesma coisa.
Depois do jogo em que foi desclassificado da Libertadores pelo Palmeiras, que colocou o time na roda, um menino de dez anos começou a chorar de tristeza e vergonha. O seu sonho é jogar profissionalmente no São Paulo. Então, no fim do jogo com o Palmeiras, ele chorou.
Quem me contou foi o pai, que, ao ver a criança chorando, a abraçou e consolou dizendo que o São Paulo não merecia suas lágrimas.
E não merece mesmo. Um time que faz crianças chorarem de vergonha não merece as lágrimas derramadas por ele, nem mesmo as de vergonha.
Ser são-paulino já me deu muita alegria. Já viajei pelo interior de São Paulo para ver o time jogar e fui muito ao Pacaembu e ao Morumbi. Vibrei e fiquei triste porque faz parte do futebol. Vi o time ser campeão e perder jogos inacreditáveis. É assim é que é, então, tudo bem.
Triste é ver o que acontece nos últimos anos. Ver crianças chorarem de vergonha. Triste é ver a ilusão vencer a esperança.
___
Siga nosso podcast para receber minhas crônicas diariamente. Disponível nas principais plataformas: Spotify, Google Podcast e outras.
Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.