Pressione enter para ver os resultados ou esc para cancelar.

Ipês amarelos

Os ipês amarelos floriram. Estão carregados de diferentes formas, como acontece com árvores tão díspares como eles. Não sei se são os mais numerosos, mas com certeza são os que mais variam de tamanho, desde pequenas árvores mal e mal entradas na puberdade, até respeitáveis senhores, alguns com mais de século no tronco.

É poético ver os pequenos ipês se esforçando para florir com seus galhos finos vestidos com poucas flores. E é poético ver os grandes ipês amarelos se cobrirem de flores, enfeitando a cidade e desafiando o horizonte, numa festa única, na qual os grandes beneficiários são os sabiás laranjeiras.

A florada dos ipês amarelos tem muito de resgate do passado, de lembrança da história dura e bela da cidade de São Paulo e de seus entornos, espalhados pelo planalto e pelas margens dos rios que rumam para o interior.

Fala de outros tempos, quando a floresta se encontrava com os campos, interior adentro, e os pinheiros, que deram o nome ao bairro, eram enormes araucárias, que desafiavam jacarandás, perobas e ipês para decidir no porte do tronco e na vasta sombra a árvore mais antiga.

Fala de entradas sertão adentro, em tropas aguerridas, compostas por centenas de índios, mamelucos e brancos, que desafiavam o tempo e a terra, nas marchas pelos Peabirus, no vasto interior a ser descoberto.

Os ipês amarelos homenageiam o ouro arrancado das catas, nos aluviões de Sabarabuçu, Goiás e Cuiabá, depois de viagens dramáticas, de procura e descoberta do ouro que rolava pelos córregos em pepitas que brilhavam nos leitos a possibilidade de todos os Eldorados.

Os ipês amarelos têm em suas flores a seiva das matas nativas, o sangue dos desbravadores e a esperança de todos os brasileiros.

 

___
Siga nosso podcast para receber minhas crônicas diariamente. Disponível nas principais plataformas: SpotifyGoogle Podcast e outras.

Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.