Personagens das crônicas
A cidade de São Paulo é o personagem mais importante das Crônicas da Cidade. É ela quem dá o tom, alegre ou triste, com que narro os fatos que vejo – ou imagino, o que, às vezes, pode ser muito mais belo.
São Paulo é um universo que pulsa através de suas artérias o ritmo frenético de sua vida infatigável, girando 24 horas por dia. Suas ruas são suas veias e suas artérias, por onde corre o sangue quase que inextinguível de seu corpo amorfo e gigantesco.
Cada avenida, cada rua, cada praça, cada viela, é um pedaço vivo do tecido da cidade, onde se esconde um pecado ou um milagre, quando não os dois juntos, lado a lado, com medo e vergonha um do outro.
E são também seus personagens as pessoas que cruzam estas ruas e procuram estas praças, iludidos com todas as possibilidades que brilham no horizonte deste Eldorado distorcido por um por de sol de sonho, refletindo na poluição.
Os pedestres sem cara e sem cor, que fundem ao cinza do dia o cinza de suas almas, sempre sem coragem para dar o grande salto.
Os riquixás alucinados que percorrem a cidade puxando suas carrocinhas de mão, sempre cheias de papel e garrafas, como molduras para um outro sonho.
As pessoas que são simplesmente pessoas, sem nome famoso, sem retrato no jornal, que, de repente e sem aviso, chegam lá, por culpa de outro alguém que as mata, mas não tinha nada com isso.
Todo o surrealismo de seu hálito frio se espalhando no vento quente que corta ruas e avenidas, nas tempestades de verão que varrem seu corpo de polvo urbano, arrastando à sua passagem esperanças de vida que nunca foram.
A cidade é o grande personagem – ativo e passivo – deste cotidiano louco onde ninguém entende nada, mas todo mundo toca em frente, porque atrás vem gente.
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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.