Rosa dos ventos
Qual o rumo de teu rumo? Que caminhos secretos te levam para mais próxima da felicidade? Que rota ou derrota comanda tua nau no longo percurso de tuas Índias?
Para que latitude te leva teu portulano? Para que porto?
E de que porto vieste? Em que terra esculpiram a carranca de tua proa? De que matas tiraram teus mastros? Em que oficina moldaram tuas tábuas, fazendo marinheira tua silhueta?
Que águas molharam tua quilha? Que mares foram arados por teu casco? Quais os ventos que rasgaram teus panos?
Por que ondas foste levada para paragens que não conhecias? Quantos carneiros brancos levantaram teu navio ao sabor das vagas que não respeitam tua força?
E por que equadores azuis singraste quando a calmaria deixava tua garganta seca e água com gosto de velha?
Quantas bocas refrescaste com teu barril com sabor de salsugem?
E no fundo de teus porões escuros e quentes, quanto suor deitou o cansaço da faina bruta no alto das vergas?
Quantos sonhos embalaste no balanço manso de tuas redes sob a coberta? E quanto medo nas tempestades zumbindo pelo cordame?
Que estrelas te apontaram o norte e que céus brilharam sobre tua cabeça?
Por onde andaste que nenhum outro ser humano se aventurou? Por que sonhos viveste? Que Eldorado encontraste? E os horizontes sempre distantes, mas cada vez mais próximos?
Quero ser o desenho de teu mapa, o diário de bordo de tua jornada, o perigo e a salvação que tingem de prata o marulho de tua esteira.
Quero ser tua rosa dos ventos e singrar teus oceanos, como a estrela guia que surge do outro lado de tuas velas.
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