Presença cósmica
Teus olhos têm a profundidade e a transparência de uma noite de outono. Neles brilham estrelas de três bilhões de anos, supernovas desaparecidas quando o universo era ainda uma criança e o sol sequer existia. Neles cruzam cometas que como sonhos soltos correm pelo céu atrás de todas as verdades.
Teus olhos têm a eloquência da brisa fecundando a terra. A certeza das sementes caindo dos rumos do vento e se entranhando no solo, por cada poro de teu corpo, como se fosse uma campina fértil, onde a esperança se perpetua em flores e borboletas voando.
Teus olhos têm a certeza das marés que eternamente vão e vem e se repetem em movimentos sempre diversos, trazendo para a praia os segredos do mar alto e a salsugem e as algas que embalam a vida.
Teus olhos têm a interrogação do momento e a coragem da resposta, que nem sempre acontece.
São francos, transparentes, bonitos. Belos como você aberta para a aventura da vida. Vulcão em sono forçado por toneladas de lava fria retardando a explosão do magma capaz de submergir cidades, de apagar civilizações, e recriar geografias, com uma dimensão mais humana.
Teus olhos são o reflexo de tua alma. Neles você espelha intensamente toda a intensidade de tua vida.
Por isso eles olham firmes, diretos, penetrantes como adagas que varam a alma e liberam a vontade de dizer tantas coisas indizíveis por não haver palavras para exprimi-las.
Teus olhos são esporas que atiçam o salto para além do abismo. E são a negação do abismo ou da possibilidade da queda.
Teus olhos são o universo reinventado, o paraíso antes da queda, a fonte, a cachoeira, a mata, o rio, a campina e o mar.
Teus olhos são a certeza que pagam o preço de todas as incertezas que eu nem sei se são.
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