Amanhã já é velho
A rapidez do mundo é uma realidade palpável. A velocidade da vida faz parecer que o minuto não tem mais sessenta segundos, que a hora ficou mais curta e que o dia passa mais depressa.
O processo é perverso. Deveríamos ter cada vez mais tempo, mas é o contrário que acontece. Temos menos tempo. A rapidez do dia não nos permite parar na estrada, encostar no barranco, debaixo da árvore, e fumar um cigarro de palha, à sombra, sem outra preocupação que fumar um cigarro de palha.
Na roça, quando tinha roça, cigarro de palha era sinônimo de tempo para fazer as coisas. Picar o fumo, prepará-lo na palma da mão, pegar a palha de milho, cortá-la na medida, alongá-la, colocar o fumo, enrolar com cuidado, passar saliva para fechar o cigarro, depois acendê-lo, usando uma binga austríaca, era a certeza de que o mundo não ia acabar, nem que a vida nos deixaria pra trás.
As notícias do jornal de amanhã eram as últimas notícias e só seriam conhecidas amanhã. Antes era cedo. A TV apressou o antes e a notícia de amanhã ganhou uma dose de “real time”, passou a ser dada mais rapidamente, às vezes até em cima da hora.
Mas o mundo ainda caminhava dentro de regras milenares, na bitola dos trens expressos, com velocidade máxima capaz de não causar espanto. Então, chegaram os trens de alta velocidade.
E vieram a Internet, os notebooks e os celulares. Aí virou de ponta cabeça. Um G, dois G, três G, quatro G, cinco G. Nada será como antes. A cada dia o dia muda, o mundo muda, a vida muda.
Se antes era cedo, agora, o amanhã já é tarde. A velocidade da vida alterou o movimento de rotação, a batida do coração, o som do violão. Cada vez mais nos sobra menos. O tempo perdeu elasticidade.
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