Solidão das ruas
As ruas das grandes cidade são cheias. Gente vai de um lado para o outro…sem olhar para o lado, sem olhar que vai e quem volta, como se fosse a única pessoa andando pela calçada.
As ruas das grandes cidades são movimentadas, têm barulho, camelôs, vendedores de promessas e milagreiros prometendo o paraíso.
São coloridas e estão permanentemente em movimento. Mas são tristes.
Tristes como um fim de tarde sem pôr do sol, ou como a imagem da criança que te olha do outro lado do vidro do carro, com raiva, ou fora de si.
As ruas da cidade, no ritmo acelerado da vida moderna, de verdade são imensos desertos onde as almas não se encontram, nem os olhos se veem.
A massa humana se estende como um rio, mas um rio de águas mortas, que não fertiliza as margens, nem tem peixes nadando no seu leito.
O povo simplesmente passa, sem deixar uma marca, uma lembrança ou ao menos um vago cheiro de perfume, entranhado mais fundo no nariz de alguém.
Nada, exceto a solidão imensa, de se estar só, por se querer estar só, rodeado de gente.
A alegria ou a tristeza, a angustia ou o prazer – a vida, enfim – que corre ao lado, dentro do peito do homem, ou nos olhos da mulher, em quem você esbarra, não te dizem respeito.
A você importa a tua solidão. A imensa solidão de viver numa cidade grande, com todos os vícios, com todos os medos, com todas as neuroses das cidades grandes.
O resto… o resto é resto, mesmo que seja uma flor, ou um sorriso que poderia te envolver e esquentar tua alma, endurecida pelo frio da indiferença que te faz olhar pro lado só quando tem uma tragédia.
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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.