Os olhos de Maria
Os olhos de Maria veem a cidade de um jeito diferente. Os olhos de Maria veem a cidade com os olhos de Maria, com o jeito de olhar de Maria e o jeito de olhar de Maria é diferente do seu e do meu. O jeito de olhar de Maria é único e faz com que a cidade vista por Maria seja única, diferente da sua ou da minha, diferente de todas as outras, ainda que sendo a mesma cidade, com as mesmas pessoas e seus sonhos e alegrias e tristezas.
O olhar de Maria tem compaixão, amor, vontade de dividir, de se entregar, de pular de cabeça e entrar de sola. Maria quer ser a cidade e seu olhar engole o que ela vê para ser refeito dentro dela, numa sopa de letrinhas que só Maria entende, mas que ela entrega na ponta dos dedos estendidos para quem quiser pegar e dividir com ela outro jeito de ver a cidade, tão intenso quanto o dela.
Maria ama São Paulo. E, por amar São Paulo, xinga a cidade, reclama, aponta o feio, ameaça ir embora. Mas não vai. Maria não quer sair de São Paulo, Maria só quer que tenham mais cuidado com a cidade.
Que cuidem bem de seus parques, que limpem suas praças, que tapem os buracos e que as pessoas sejam mais gentis. Que exista respeito humano, como o canto dos sabiás varando a madrugada.
Maria não pede muito. Só um pouco de respeito com ela e com os outros, com a cidade e com quem vive nela.
Maria sabe que as grandes cidades são cruéis, difíceis, temperamentais. E que por isso a vida nelas é complexa, exige cuidado, carinho, entrega e desprendimento. A vida nelas exige aprendizado, vontade de fazer e de se entregar.
Maria sabe disso tudo e Maria ama São Paulo. Então cada amanhecer é mais que um novo dia, da mesma forma que o por do sol é mais que a chegada da noite. Para Maria eles são a oração e o agradecimento.
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