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É difícil entender

A grande vantagem da democracia sobre os regimes totalitários é que na democracia todos podem falar o que quiserem, se não ferir a lei.

Falar o que quiser não é xingar o outro, nem pregar o ódio ou incitar a luta armada para derrubar o governo. A liberdade de expressão está limitada pelas regras legais, que definem o que é permitido ou não, inclusive o que é crime e suas consequências.

É este o princípio que norteia o direito de ir e vir. Ele não é amplo, nem absoluto, nem está acima das regras que determinam o que pode ou não pode. Por exemplo, não é permitido trafegar na contramão e não é permitido nadar nas barragens das hidrelétricas. Também não é permitido se pendurar em fios elétricos ou andar sem máscara durante a pandemia.

Mas exprimir ideias é permitido e ninguém pode ser proibido de fazê-lo, até quando a ideia não faz sentido ou fere a dignidade humana.

Entre as barbaridades decorrentes da polarização brasileira, li e ouvi comentários apavorantes contra a distribuição de absorventes higiênicos para mulheres em situação de vulnerabilidade social e com riscos à saúde.

Comentários atravessando o enorme espectro entre o bem e o mal, de um extremo a outro na ampla gama de possibilidades, muitas no mínimo irrefletidas. Nenhuma mulher, podendo, vai deixar de usar absorventes higiênicos.

Num país em que a fome é real e as pessoas em situação de rua aumentam dia a dia, num país que afunda na crise, na inflação e no desemprego, ser contra a distribuição de absorventes para mulheres que não têm como adquiri-los fere o direito natural, nega a compaixão e abre as portas para a divisão social se aprofundar e a violência crescer.

O fantástico é que parte dos que são contra se dizem religiosos, vão na missa aos domingos e batem no peito pra mostrar como são bons.

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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.