Dona Tereza
Dona Tereza estaria completando 97 anos de idade ontem, domingo, 21 de novembro. Seria uma idade decente para alguém de sua família, onde a longevidade é marca registrada, começar a pensar em sair de cena. Mas ela foi um pouco antes, morreu aos 91 anos de idade, nove anos depois de seu marido, exatamente no mesmo dia, com uma diferença de três horas.
Eu tenho certeza de que ela fez de propósito e que sua intenção era morrer na mesma hora que ele saiu de cena. Fazia uma semana que ela diariamente superava seu estado terminal e aguentava mais um dia, aguardando chegar três de abril e ela embarcar para a última jornada na mesma hora que meu pai. Mas as forças lhe faltaram e ela faleceu três horas antes da hora em que ele partiu.
Minha mãe era uma mulher especial. Sob os mais variados aspectos. Inteligente, culta, bem-educada, bonita e charmosa, quando queria, ela fazia bonito onde chegava e sabia cativar e prender a atenção dos outros.
Ao mesmo tempo, ela era mais seca do que carinhosa. Apesar dela volta e meia me fazer cafuné, deitado com a cabeça no seu colo, no sofá da sala da casa do Pacaembu, ela não era expansiva, nem gostava de grandes intimidades ou proximidades.
Mantinha distância e era formal, se bem que fosse capaz de brincar e rir um riso gostoso, que iluminava seu rosto.
Dona Tereza gostava de cinema, balé e teatro. Como meu pai, depois de uma certa idade, não fazia muita questão de sair de casa, especialmente para esse tipo de programa, ela ia comigo e depois jantávamos fora, nos mais variados restaurantes da cidade.
Às vezes me pego pensando nela, recordando pescarias em Cananéia, a fazenda e o Guarujá. Eu tive uma mãe muito especial.
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