Um ou outro
O mundo está se dividindo entre verde e amarelo, azul ou marrom, alto ou baixo, dia ou noite. Não há mais zona de conforto entre um e outro. Ou é ou é. Não tem madrugada, nem por do sol, simplesmente se é, ou se é. E quem não é não é bem-vindo.
Revivemos a era das hordas, muito mais perigosas dos que os bárbaros que atacavam o Império Romano. Atualmente, com ferramentas digitais, os estragos são incomensuravelmente maiores. E a munição é a mentira que acirra os ódios, combustível para se dar bem.
Não há mais diálogo, troca de ideias. As defesas de posição partem pra porrada, tiros e facadas, com a sem cerimônia de Aquiles matando troianos.
A turma se esqueceu de duas frases lapidares de dois dos pais da redemocratização brasileira. Ulisses Guimarães dizia que “em política só bobo briga”. E Tancredo Neves completava: “as ideias brigam, os homens não”.
A radicalização é a onda do momento. E a polarização aparece em todas as pesquisas, que esperam uma terceira via para ser massacrada pelos polarizados, porque para eles está muito bom assim.
Um precisa do outro porque sem o outro não se sustenta. O que não pode é chegar alguém com peso específico e recado para dar. Se ele entrar na dança, os dois campeões não sobrevivem.
Mas a polarização só existe porque o eleitor quer assim. Quem escolhe o candidato é o eleitor e, se o eleitor escolheu um entre apenas dois, quem escolheu foi ele. O máximo que os escolhidos podem fazer é jogar gasolina na fogueira para tentar manter eventual terceiro de fora.
Vai ser assim até o fim? Se for, pobre Brasil! Se ficar o bicho come, se correr o bicho pega. Quem vai pagar essa conta somos nós.
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