Pressione enter para ver os resultados ou esc para cancelar.

Aniversário da sequela

Para quem acha que a covid19 é brincadeira, estou comemorando um ano de sequela. Quer dizer, de brincadeira não tem nada. Está certo que, perto das alternativas possíveis, eu sou uma pessoa de sorte. Minha sequela é a perda do olfato.

Depois de ter covid19 assintomática, mas assintomática mesmo, tive algumas sequelas, que passaram, com exceção da perda do olfato. Perdi o olfato e a sequela segue firme e forte, apesar de vários médicos, ao longo desse ano, terem me dito que era questão de tempo, que em breve eu recuperaria a capacidade de sentir os cheiros. Até agora, estou esperando.

É verdade que existem várias alternativas muito mais complicadas. Em comparação com elas, minha sequela é uma sequelinha, mas é muito chato. Ainda mais para mim que a vida inteira fui essencialmente alguém movido a cheiro e gosto.

Um amigo diz que tem suas vantagens, que eu não sinto o cheiro ruim que exala dos rios e córregos que cortam a cidade, que não sinto o cheiro dos bueiros e que, se estivesse na Europa, não sentiria o cheiro dos vagões dos metrôs nos meses de inverno.

É tudo verdade, mas não sentir cheiro nenhum é estranho, se bem que, um ano depois, eu praticamente não presto mais atenção. De outro lado, não perdi o paladar. Esse tipo de sequela normalmente é duplo. O cidadão perde o olfato e o paladar. Eu perdi apenas o olfato. O paladar, de zero a cem, está com 90, então estou melhor do que muita gente que perdeu os dois, quando não teve complicações muito mais sérias.

Por que eu perdi o olfato e não perdi o paladar? Por que fulano perdeu os dois? Por que um ano depois eu continuo sem sentir cheiros? Por que em 90 dias fulano recuperou os dois?

Ninguém sabe. A única certeza é que essa doença é muito séria.

___
Siga nosso podcast para receber minhas crônicas diariamente. Disponível nas principais plataformas: SpotifyGoogle Podcast e outras.

Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.