A origem está no começo
Quem sabe a origem dos traumas e dos sonhos que movimentam as cidades?
Quem sabe o que está por traz de uma metrópole, por que ela se transformou em metrópole, enquanto sua irmã e rival parou no tempo, adormecida por outros sonhos que não levaram-na a lugar algum?
Quem sabe a mágica das coisas, o fluido que corre nas veias dos vencedores e que abre para o progresso os mistérios da criação do mundo?
Quem sabe, quem sabe, as razões e as vontades que fazem aqui dar certo e ali dar errado?
Quem sabe da crueldade humana e da crueldade das cidades que martirizam os homens?
Quanto de solidão e de abandono existe em cada sonho não realizado?
Quanta frustração empurra o ser humano para frente?
Quem sabe das vontades que não se realizaram e das esperanças que não partiram?
Quem pode contar das estradas que nunca voltaram e dos ossos perdidos em todas as matas?
Quanto do seu cal são restos de gente? Quantos dos seus prédios são túmulos e mausoléus? Homenagem a um deus perdido que caiu e se fez homem?
Cada cidade tem seu ritmo e sua vida. Cada uma respira seu próprio veneno e se intoxica dele para ter coragem de seguir viagem.
São Paulo também.
São Paulo também sabe que seu passado é a mola de seu futuro e que seu veneno corre em seu sangue feito do sangue e do suor de milhares de índios, brancos, negros, escravos, imigrantes e emigrantes que ajudaram a cidade ser a cidade, para depois triturar seus sonhos, suas caras e seus nomes no imenso moinho que é o desafio de cada dia.
São Paulo inclemente, má, ilusória. São Paulo de todos os sonhos possíveis.
São Paulo que é ópio na ilusão do sucesso que depois ela retoma.
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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.