Tinha outra solução?
Andando pelas Pitangueiras, no Guarujá, coisa que faço desde que sou criança, atravessando as duas praias para bater três vezes a mão no muro das Asturias e voltar e bater no Morro do Maluf, eu olho o paliteiro que foi erguido, olho o mar do outro lado e me pergunto se tinha outra solução.
Será que o Guarujá tinha como permanecer o lugar mágico, calmo e gostoso que foi até a década de 1960? Será que teria espaço para a avenida calma de frente para o mar? Para a estradinha de pista simples que cortava a Enseada e seguia para Pernambuco? Será que dava para continuar a aprender a dirigir na praia da Enseada? Na praia do Perequê? Tinha como a Enseada não virar um paliteiro baixo e atarracado, com centenas de prédios dividindo os espaços com locais tradicionais que eu nem sei se ainda existem, como o Âncora ou Il Faro?
E Pernambuco, com suas casas maravilhosas, tinha como não ter o Golfe e o Acapulco?
Tinha como não ter a festa de bares e restaurantes do Perequê? A Marina mais pra frente? Tinha como não ter São Pedro e Iporanga?
Pitangueiras, na década de sessenta, já tinha a maioria dos prédios da avenida Marechal Deodoro. Faltava construir para o fundo e isso foi sendo feito ao longo dos anos 1970.
Depois, foi a vez das Asturias, primeiro pé na areia, depois o fundo. Enquanto a praia do Tombo, movida por força própria, crescia em silêncio, sem chamar a atenção, até estar completamente ocupada para hoje começar a ser devorada pelo mar.
Estou convencido que não tinha como ser de outra forma. A proximidade com a Grande São Paulo, a magia do nome, a beleza das praias eram imãs muito fortes. O Guarujá não tinha outra solução. E eu continuo gostando dele, como sempre gostei, desde criança.
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