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A tragédia tem cara

O deslizamento de morros nesta época do ano tem várias leituras, que vão da fatalidade da vida à indiferença do planeta ou da incúria dos governantes e da necessidade que coloca milhares de pessoas em situação de vulnerabilidades as mais variadas.

Ver um morro descer, puxado pela força da terra encharcada que se solta das encostas é uma visão impressionante. Uma visão apavorante! Um momento trágico em que pessoas perdem a vida e os que têm “sorte” de permanecerem vivos perdem tudo o que possuem, muitas vezes até a própria história, levada nos objetos e fotos arrastados pela massa de terra que invade e derruba seus lares.

As imagens das ruas tomadas pelo barro, as cicatrizes abertas nos morros, os restos de casas saindo do meio da lama acumulada, tudo nos fala da tragédia, do drama apavorante que aconteceu naquele determinado local e que cobrou seu preço em vidas e destruição.

É triste. Nos torna pequenos diante da vida e insignificantes diante das forças naturais mostrando seu poder, exercitando sua fúria, não contra nós, mas como parte de sua dinâmica dentro dos movimentos do planeta.

São cenas que nos enchem de horror, que nos fazem meditar na finitude humana, na nossa fraqueza.

Mas as cenas realmente dramáticas, as que não têm como esconder, que nos tocam no fundo da alma e abrem comportas inimaginadas, escondidas no DNA humano, são as cenas em que o ser humano é o personagem principal.

Em que um olhar perdido, uma lágrima escorrendo ressalta o barro colado na face e nos conta que aquela pessoa estava lá, não como espectador, mas como parte do drama. Nos conta que as vítimas eram inocentes e só lhes resta colher os cacos. Por isso ficamos diminuídos.

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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.