As chuvas de verão não têm pena de nós
As chuvas de verão estão visitando o Brasil como fazem desde o início dos tempos, ou pelo menos desde a era colonial, quando era proibido construir nas várzeas em volta da Vila de São Paulo por causa dos mosquitos que se multiplicavam e transmitiam doenças depois das enchentes do começo do ano.
As várzeas paulistanas sempre inundaram. Não há razão para mudarem o sistema, ainda mais com grande parte do solo impermeabilizado, como acontece em quase toda a cidade.
Mas não é só São Paulo que inunda. O Brasil tem imensas áreas alagáveis, começando pela Amazônia, que passa parte do ano debaixo d’água, e o Pantanal, que, com seu ciclo mágico, criou uma das áreas com maior biodiversidade do planeta.
Este ano as chuvas de verão fizeram sua estreia no sul da Bahia. E entraram com tudo, mostrando que vinham pesadas e sem a menor pena de quem estivesse no seu caminho. De lá, desceram para Minas Gerias, como os jagunços de Guimarães Rosa, que cruzavam a fronteira dos Estados com a sem cerimônia de faca quente cortando manteiga.
Em algum momento, tinham que chegar em São Paulo. E o fizeram em grande estilo, devastando Francisco Morato e Franco da Rocha. No desenho tradicional, ficaram faltando Rio de Janeiro e Santa Catarina.
Eu não sei por quê, as chuvas decidiram que era hora de revisitar a Serra Fluminense e, ao contrário do que fizeram em 2011, este ano concentraram sua fúria e sua força num pedaço da cidade de Petrópolis.
A destruição foi impressionante. Morros vieram abaixo, arrastando o que encontravam pela frente. Mais de cem pessoas morreram e uma grande área da cidade foi apagada.
O duro é que o verão não acabou. Provavelmente ainda vem mais.
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