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O dia agradece

Não há nada como uma bela manhã depois de uma noite de chuva, na cidade de São Paulo. O dia nasce limpo, transparente, sem a mancha de poluição que na semana anterior transformava cada começo de dia numa aventura de ficção científica, pelo cenário quase intergaláctico criado pela nuvem de sujeira.

O cheiro da terra cansada é substituído pelo cheiro bom de terra e grama molhadas. O cinza opaco perde sua densidade e cede o horizonte para o azul manchado de nuvens altas, por onde o sol desce em raios que se espalham pela cidade e dão outra alegria à vida.

Até o trânsito, tão desesperado como sempre, perde um pouco de sua agressividade, de sua falta de sentido, como se os motoristas saíssem de casa com alma purificada pela chuva.

É um cenário bonito que fica mais bonito refletido nas poças d’água espalhadas pelas ruas e calçadas e que não deveriam existir mas que existem, por causa dos buracos de todos os tamanhos que se escondem feito armadilhas, prontos para derrubar os mais incautos.

São Paulo molhada pela chuva da noite tem algo de poético, de mágico, que extrapola a simples paisagem para se entranhar nas pessoas e as fazer mais bem humoradas, no dia que nasce com outra perspectiva para o corpo e para a alma.

É bom sair de casa numa manhã como essa. Com o cheiro da chuva ainda vivo no ar, misturado ao cheiro bom de terra e plantas molhadas.

Como se a vida se refizesse do porre infinito da poluição constante que deixa cinza as paredes e o céu, a manhã lavada pela água da chuva reanima a esperança e a possibilidade das coisas correrem bem durante o dia.

Reanima a esperança ou o sonho de um dia menos violento porque um pouco da violência foi embora, levada pela enxurrada.

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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.