No céu e na terra
Enquanto as paineiras vão enchendo de cor as ruas da cidade, substituindo com seu rosa as quaresmeiras que perderam as flores, no céu um azul diferente vai criando o contraponto que realça as novas donas das ruas, dando-lhes um contraste único, com suas cores praticamente explodindo, tendo o infinito por fundo.
O céu do outono é o céu mais bonito que existe. Nenhuma outra época do ano se iguala a ela. A profundidade que o céu nestes meses adquire, por si só, o faz diferente e mais belo, mais denso e ao mesmo tempo mais leve, como se fosse possível transportar para o cosmos a transparência das águas de alto mar, onde os peixes de bico vivem e o azul translúcido permite-nos vê-los ainda bem distante dos barcos.
É uma cor única, ou melhor, mais do que uma cor é a uma consistência única, que dá ao céu de outono a impressão de ser cortado por uma estrada mágica que conduz – quem conseguir desvenda-la – às portas do paraíso.
É nos meses de abril e maio que ele atinge o seu auge, com o azul ficando muito mais azul do que em qualquer outro tempo, por mais quente ou mais frio que sejam os dias.
Até nisso o outono é imbatível. Seus dias são os mais gostosos de todo o ano, não sendo frio, nem quente, em excesso, mas dando-nos, durante o dia, todas as possibilidades de seu calor e, durante a noite, o frescor de uma brisa que nos permite dormir, sem sentir calor ou frio, o sono dos justos.
O outono é a época em que o capim gordura floresce, tingindo os campos com um vermelho diferente de tudo, e mais bonito. A cidade não tem mais espaço para este contraste, assim, cabe às paineiras a missão de substituir o capim gordura, emprestando suas flores para chamar a atenção para a profundidade do céu.
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