São Paulo é São Paulo
São Paulo é São Paulo, tanto faz o lado, o enfoque, a vontade ou a falta de vontade. São Paulo é São Paulo, não tem o que fazer.
De manhã, de tarde, de noite, a hora que for, São Paulo é São Paulo e você estará sempre dentro de uma cidade alucinada, capaz de tomar um imenso planalto e seguir em frente, subindo morros do outro lado, descendo pirambeiras do lado de cá, entre gente de todas as origens, credos e crenças. Entre gente que também divide a cidade, com amor ou com ódio, mas invariavelmente presa ao asfalto duro e malcuidado que é a marca registrada de nossas ruas.
Tem quem ame a cidade. Tem quem deteste a cidade. Para São Paulo é indiferente. A cidade não olha para o lado, nem se preocupa com os detalhes de cada cidadão. Ao contrário, ela se abre inteira para todos que a procuram. Quem puder ou souber que pegue o que quiser. A cidade se entrega sem vergonha, sem pudor de se abrir, de se mostrar nua, mas, como a Yara, pronta para levar para o fundo das águas o incauto que desdenha dela. São Paulo não tem pena.
Mas São Paulo também não é cruel. Dura, sem dúvida, dura, a cidade não é cruel. Permite que a percorram, que a descubram, que a toquem de todos os jeitos, numa dança constante, em que troca de par com a sem cerimônia de quem sabe que a dançarina é ela e que quem está em volta mal e mal a consegue acompanhar.
Seu bailado é intenso, sensual, promete os tesouros de Sabarabuçu, as minas de Goiás e a Monção Cuiabana. Se abre no verde intenso dos cafezais e no verde mais fraco dos canaviais. Se esconde na fumaça das fábricas, nos panos nas vitrines das lojas, nos arranha-céus mais altos que as nuvens.
São Paulo é São Paulo, o resto não interessa.
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