Pastel na praça da Sé
Existem imagens que sem razão nenhuma, e mesmo não tendo qualquer razão específica, nunca mais saem de nossa cabeça. O porque delas ficarem gravadas para sempre, apesar de não terem relação mais forte com nada que justifique a sua permanência, já deve ter sido explicado pela psicanálise, seja como for, eu não sou do ramo nem sem a razão.
Simplesmente constato que é assim e aceito, chegando a me divertir com algumas delas, que volta e meia voltam, cheias de força, jogando-me para um passado que é gostoso recordar.
Entre elas, uma das mais fortes é a lembrança de um pastel que eu comi na praça da sé, durante a missa de sétimo dia em intenção da alma do jornalista Wladimir Herzog.
A catedral estava lotada e eu acabei ficando perto da pastelaria, o que me fez lembrar de meus tempos de faculdade direito e das duas pastelarias que existiam no largo de são francisco, a pastelaria acadêmica e a pastelaria 11 de agosto, ambas destruídas em nome do progresso, para dar passagem para o metrô, e que eram regularmente fechadas pela saúde pública, apesar de fazerem alguns dos melhores pastéis do mundo.
No final do culto pelo jornalista assassinado, eu entrei na pastelaria da praça da sé e comi um pastel de queijo.
Pois na semana passada eu fui até o instituto histórico e geográfico, que fica na rua Benjamim Constant, e o táxi me deixou exatamente na esquina do quarteirão da pastelaria.
A imagem voltou e eu não resisti. Andei até ela e, mesmo estando mais ou menos de regime, pedi um pastel de queijo.
No mundo tem pouca coisa melhor do que pastel de queijo e aquele, como se eu voltasse duas décadas no tempo, estava tão bom quanto o gosto dos pastéis que eu guardo na memória, e que eu comia nos intervalos das aulas da faculdade.
Estava tão bom quanto o pastel do dia da missa pelo Wladimir Herzog… Estava tão bom quanto um pastel pode ser.
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