Mexericas no lugar das goiabas
Este ano eu comi uma única goiaba no pé. Não sei o que aconteceu, mas a praga que atacou as árvores nos anos passados se alastrou e acabou com as frutas nas árvores. Não teve goiaba para se comer no pé. Consegui uma única, exceção à regra, ao lado da calçada suicida da USP, a calçada onde ciclistas e pedestres dividem o espaço.
Não tem sentido, mas a calçada está lá faz tempo, mesmo tendo uma faixa exclusiva para bicicletas pintada na rua, ao lado da calçada. Eu estava terminando minha caminhada e dei com a fruta pendurada em um galho não muito alto. Com algum esforço consegui apanhá-la e assim comer a única goiaba que eu encontrei no pé neste verão.
Mas se as goiabas não deram as caras, me vinguei comendo mexericas. A mexeriqueira do meu jardim carregou como nunca e eu me fartei de comer as frutas com gosto especial, de mexerica mesmo, não de poncã.
Existem diferentes tipos de mexericas. A melhor, para mim, é a carioca, por acaso a que tem plantada no jardim lá de casa.
O ano passado a árvore não deu doze mexericas, mas este ano inverteu o jogo e carregou de ficar com os galhos arriados. Quem ganhou foi quem mora lá em casa. Teve mexerica no pé e na geladeira, colhidas ali mesmo. No começo, por precipitação, azedas; depois doces, como as boas mexericas devem ser.
Até o bando de saguis que vive no bairro deu as caras para ver o que estava acontecendo. Uma bela tarde, o bando pulou a cerca elétrica do muro e se encarapitou na pitangueira, com os olhos postos na mexeriqueira carregada.
Quem tem boca vai a Roma e quem tem olhos e olfato come mexerica. Se não teve goiaba, as mexericas deram conta do jogo.
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