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O gesto

Teu gesto tem qualquer coisa de eterno, de muito antigo.

Como se ele exprimisse o primeiro sentimento de carinho da primeira mulher, ele fala de coisas quentes, de sensações boas, de proteção e de segurança.

Ele fala da enorme responsabilidade de criar e manter o lar. De fazê-lo acolhedor. De trazê-lo limpo.

Teu gesto se expressa nas pequenas coisas. No cuidado com que você escolhe comida, nas flores e nas plantas que enfeitam a casa.

Para você cada detalhe é necessário, como o sol ou como a luz que ilumina cada pedaço da casa.

Tudo é exato e completo. Nada é a mais ou a menos. Tua noção de espaço comporta pouca poesia, mas a poesia não está na tua noção de espaço, a poesia mora nos teus atos, capazes de colocarem a casa abaixo só porque um armário está sujo, ou porque aquela cadeira fica melhor de três quartos.

Teu carinho mal dissimulado e do qual você sente como que vergonha, explode em ações únicas, que dão vontade de rir, não porque são gozadas, mas porque são ternas, e falam duma humanidade da qual você está impregnada, e que extravasa em cada gesto, como a água que ultrapassa a borda da represa e cai lentamente, formando um filete fino mas constante.

Tua constância… Quem sabe tua fuga, mas ao mesmo tempo tua batalha.

Cada gesto é repetido de novo e de novo, com a insistência dos obstinados, como se dependesse dele o equilíbrio da vida e a certeza da família.

Teu gesto tem qualquer coisa de farto, como a chuva caindo e garantindo a colheita, como os campos semeados, como o cheiro da terra molhada misturado com o das plantas cortadas.

Teu gesto tem qualquer coisa de eterno. Em você o primeiro gesto de carinho da primeira mulher se multiplica em pequenos gestos banais que são a essência da própria vida. Da tua condição de mulher.

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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.