O tombo do noivo
Depois de quatro anos comendo pão que o diabo amassou, ele imaginou-se livre da megera…
Ser noivo nunca tivera graça, pelo menos para ele, engajado com um monstrinho de saias, que por quase um lustro o atormentou de todas as formas, inclusive as não pensadas pela inquisição espanhola.
Ao conhecê-la, sua simpatia radiante o cativou de tal forma que, antes de entender muito bem o que estava acontecendo, quer dizer em dois dias, estava namorando-a.
Foi o único tempo feliz que ele teve ao seu lado. Completamente hipnotizado, ainda não reparara nos sinais exteriores indicativos da fera que ele fora arrumar.
Baixinha, gorduchinha, de lábios finos, cabelo nas ventas e um belo buço, só um cego não via o perigo que era tê-la por perto.
Mas, ele estava cego. Cego pela paixão avassaladora que o atou a ela desde o primeiro encontro.
Daí para a frente sua vida mudou. O inferno materializou-se na figura do demônio que era a sua namorada e que, dia a dia crescia em maldade, como uma digna filha de belzebu, disposta a estragar-lhe a vida.
Rapidamente sua paixão passou, mas cada vez que ameaçava separar-se, em nome dos pretextos mais absurdos, ela acabava por segurá-lo, impedindo-o de partir e, como vingança, aumentando a dose de perversidades.
Foi assim que de namorados subiram para noivos e depois para quase casados.
Finalmente ele arranjou forças para se rebelar e mandando-a informar que morrera no Vietnam, conseguiu adiar a data fatídica até ela se convencer de sua morte e sair atrás de outro otário.
Foi aí que ele relaxou e errou: ao vê-la com outro, ele reapareceu.
Antes que entendesse o que estava acontecendo, ela entrou com um processo por perdas e danos, tendo por base o valor do enxoval, acrescido de juros e correção, e agora ele tem que pagar-lhe uma fortuna, a qual ele não tem, o que a fez de novo sua dona, agora no sentido exato do termo.
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