Chuva

Eu preciso da chuva como a terra. Preciso senti-la entrar em mim e me revitalizar, num beijo molhado que desce pelo corpo e entra na alma.Preciso da chuva como a árvore. Preciso dela para refazer minha seiva, para limpar minhas folhas, para me fazer crescer.

Eu preciso da chuva como os pássaros. Que sem ela não têm flores, nem frutos, nem galhos para fazerem os seus ninhos.
Eu preciso da água da chuva como o náufrago. Preciso dela para matar minha sede e me dar forças para prosseguir, até a próxima ilha, até a vida.

Preciso da água da chuva como a semente enterrada. Preciso dela para germinar e sair da terra ao encontro do sol.
Eu preciso da vida da chuva. Preciso da sua vida como a própria vida que se refaz e retoma o seu espaço.

Eu preciso sentir na pele o toque da chuva. Sentir seus pingos escorrendo, num arrepio lento que toma meu corpo e o acorda, como o beijo da princesa, nas estórias de fadas.

Eu preciso da chuva.

Preciso do mistério imenso das águas subindo e descendo, subindo e descendo, repurificadas, limpas, na dança eterna da natureza com sede… E saciada.

Preciso do sol que faz a chuva e do vento que leva as nuvens. Preciso do cinza do céu, e do relâmpago e do trovão.
Preciso ver os clarões iluminando a noite, enquanto os pingos caem em bagos grandes que fazem barulho nos telhados.

Preciso das enxurradas que engrossam os rios e que os fazem devolver o húmus para as margens, fertilizando o solo e preparando-o para o arado.
Eu preciso da chuva.

Preciso da sua poesia e da sua falta de poesia. Do medo das grandes tempestades e do sono nas noites de verão.
Preciso da chuva como preciso do teu abraço.
Preciso da chuva como preciso de teu cansaço.

Nela eu me reencontro. Reencontro as esperanças perdidas, os sonhos mortos, que se refazem naturalmente, regados pelas tuas lágrimas, que são os pingos da chuva caindo do céu infinito dos teus olhos.

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