Gente que faz
São Paulo é uma cidade dura, que segue em frente levando no lombo vitoriosos e derrotados com a mesma indiferença com que há 470 anos se espalha pelo planalto, largando para trás, abandonados ou em ruínas, bairros que nos seus dias foram os melhores da cidade.
São Paulo não para, não dorme, não sente pena, não se vinga, nem cobra preço. Simplesmente segue em frente, indiferente à alegria, à dor, ao riso ou ao sofrimento.
Esses são sentimentos humanos. São Paulo não é humana. É uma forma viva, que respira, se alimenta de sonhos e cresce imoderada, sem levar em conta a vontade dos governantes. Sem se horrorizar com desmandos, nem se apaixonar pela beleza do por do sol. São Paulo transcende isso. São Paulo não tem tempo para isso.
Cabe aos seus moradores tomarem as providências necessárias para humanizar a metrópole. E tem gente que faz isso sem contar que faz, como a mão direita que esconde da esquerda atos e ações de generosidade.
Tem gente que faz de diferentes maneiras, umas mais visíveis, outras atrás do muro, outras nas sombras e muitas dentro de casa, como gestos cotidianos, normais, de boa vontade, de saudação do próximo, de satisfação própria, “porque eu quis fazer o que eu fiz”.
Faz mais quem pode menos, quem não conta, nem se gaba, simplesmente faz. Colhe uma flor numa calçada, planta um arbusto na praça abandonada, entrega um pedaço de pão a quem tem fome, dá uma roupa velha a quem tem frio.
Milhares e milhares de pessoas fazem isso diariamente e o fazem porque sabem que é necessário fazer, que ser um ser humano exige fazer.
Não esperam recompensa, nem reconhecimento. Simplesmente fazem porque sabem que é preciso fazer.
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