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As feiras livres

São Paulo é provavelmente uma das últimas cidades do mundo que ainda têm feiras livres. Durante muito tempo eu achei que elas depunham contra o nosso status de cidade civilizada, mas isto já faz muito tempo. Há mais de 20 anos eu sou fã do gênero, me divertindo e relaxando nas ruas entre suas barracas, uma mais bonita do que a outra.

A feira livre tem vida própria e única. Ela é um universo a parte, com regras exclusivas, que não foram levadas para os varejões e sacolões, o que impediu que eles destruíssem as feiras, confinando-nos em espaços fechados, quem sabe mais apropriados mas com menos poesia.

Mesmo o Ceasa, que é das coisas mais impressionantes que existem, com suas feiras especiais, uma mais completa do que a outra, não tem o charme das feiras livres, não tem o pastel das feira livres.

Os pastéis de feira são um capítulo especial. Nada no gênero se iguala a um bom e legítimo pastel de feira. Nem mesmo os pastéis das pastelarias da praça da sé, nem mesmo os pastéis das outrora pastelarias acadêmica e XI de Agosto, em frente da faculdade de direito do largo de São Francisco, se igualam aos bons pastéis de feira. E aí merece destaque o pastel da feira do Itaim, imbatível, entre os melhores. Mas não é qualquer barraquinha que serve o melhor pastel. Como tudo, nas feiras, é preciso conhecer para comprar, sob o risco de se levar gato por lebre, ou fruta podre por fruta boa.

Voltando ao começo, uma feira bem montada, com as fileiras de bancas, se sucedendo, uma depois da outra, uma depois da outra, formando ruas, com seus produtos expostos numa explosão de cores e de formas é deslumbrante.
Verde, vermelho, roxo, amarelo, rosa, nos tons mais absurdos, são expostos com enorme simplicidade nos tabuleiros barracas, onde se desenvolvem os negócios mais espantosas deste mundo.

Dificilmente as negociações da dívida externa brasileira atingem os graus de complexidade e as soluções inusitadas que acontecem nas feiras.

O que os vendedores são capazes de fazer e o que os clientes inventam, daria um livro fascinante. Um livro que exporia com graça e eficiência tudo o que um diplomata ou um banqueiro precisam saber para atingir o ponto mais alto de suas carreiras.

A feira é um universo especial, mas acima de tudo, a feira é o retrato da vida do homem, como ela sempre foi.

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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.