Queima no verão e queima no inverno
O hemisfério norte atravessa uma situação delicada, com as temperaturas ultrapassando a casa dos 40 graus com a sem cerimônia de quem acha que está na praia de Ipanema num dia de verão.
O verão europeu já matou duas mil pessoas e a conta segue subindo. O sul da Europa sempre teve verões quentes. Portugal, Espanha e Itália nunca negaram fogo, os meses de verão sempre foram extremamente quentes, de fazer tuaregue não querer sair da piscina do hotel. Mas, mais para cima, a coisa era menos intensa, menos agressiva, dava para andar na rua às duas da tarde sem ter a ameaça concreta de um desmaio por causa do calor.
Agora misturou tudo e a coisa ficou muito complicada. O calor nos países meridionais subiu mais e o calor dos países mais ao norte parece o antigo calor dos países do sul. Com uma agravante: a maioria das residências tem calefação, mas não tem ar-condicionado. Então tanto faz ficar em casa ou na rua, o calor pega pesado e, se bobear, mata.
A outra consequência é o fogo que se espalha pela Europa e atinge a natureza e as áreas urbanas com a mesma violência. Os incêndios que correm solto Europa a fora são apavorantes. E não há muito o que fazer para controlá-los rapidamente.
Mas pra quem acha que queimar o hemisfério norte já está bom, não há nada que impeça de queimar o hemisfério sul, até porque o Brasil, por exemplo, está seco como cavaco guardado para fazer fogueira.
Lá queima no verão, aqui queima no inverno. As mudanças climáticas são democráticas, atingem ricos e pobres com a mesma tranquilidade e os resultados também são muito parecidos. Aliás, quanto ao calor, o sul leva vantagem. As pessoas por aqui estão mais habituadas com as altas temperaturas, então se viram melhor.
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